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domingo, 15 de junho de 2014

segunda-feira, 11 de março de 2013


LIMINAR

Nos dicionários, liminar implica várias acepções que pouco têm a ver com seu sentido em meu saite, logoi.com.br. É um adjetivo e seu significado mais próximo de meu interesse é o que ocorre no Aurélio eletrônico (versão 7.0, de 2010): “relativo a, ou que constitui um limiar ou passagem.”
Diz-se, então, de um fato ou evento, que é liminar quando ele assinala alguma transição considerada importante ou, pelo menos, mais relevante que o usual. Pessoas e coisas também podem desempenhar, no campo narrativo, papéis liminares.
Seja exemplo do momento a Venezuela, que politicamente experimenta situação liminar, devido à morte de seu presidente, Hugo Chávez. Também o vice-presidente, nesse transe, é figura liminar, por ocupar transitoriamente a função, na espera por novas eleições.
Liminar é também a atual fase da Igreja, que prepara o conclave, pela estratégica debandada do papa, que preferiu torcer por melhores dias para ela, e, é claro, para ele.
Para o conclave, aguardam os cardeais que o Espírito Santo ― intimado a sustar suas columbinas e rotineiras tarefas ―, venha meter seu bico na humana política. E, ultrapassado o limiar entre o aquém e o além, se anime em aprofundá-lo nas cardinalícias tramoias, sempre mais próximas das mefíticas emanações do poder e da pompa que dos celestes vôos de que eternamente ele se ocupa. Na expectância se sustêm todos os demais interessados: que o ambiente da fé se areje nos vindouros tempos, livres dos pedofílicos miasmas.
Liminar, ainda e também, é o estágio por que transita meu saite – logoi.com.br -, que, embora encoberto pelas digitais moitas do ciberespaço, se exibe com novo visual, como percebe quem o revisita.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

KAFKIANA - I: O LIMIAR

Toda a obra A la recherche, de M. Proust, consiste em reflexão, rumo à consciência, sobre os valores que povoaram o extenso limiar com que se confunde a vida de Marcel, como a todos sucede. Outro exemplo, extremamente sintético, mas este de configuração genérica, que ajuda a entender o limiar, proporcionam-no as análises de H. Arendt, quando, aproveitando-se da intuição de Kafka, cita uma curta parábola cujo protagonista se chama Ele.

Ele tem dois adversários: o primeiro acossa-o por trás, da origem. O segundo bloqueia-lhe o caminho à frente. Ele luta com ambos. Na verdade, o primeiro ajuda-o na luta contra o segundo, pois quer empurrá-lo para frente, e, do mesmo modo, o segundo o auxilia na luta contra o primeiro, uma vez que o empurra para trás. Mas isso é assim apenas teoricamente. Pois não há ali apenas os dois adversários, mas também ele mesmo, e quem sabe realmente de suas intenções? Seu sonho, porém, é em alguma ocasião, num momento imprevisto — e isso exigiria uma noite mais escura do que jamais o foi nenhuma noite —, saltar fora da linha de combate e ser alçado, por conta de sua experiência de luta, à posição de juiz sobre os adversários que lutam entre si.

Quando, uma década passada, redigi o capítulo Do limiar: estudo introdutório (de Semiótica: olhares), que em breve reeditarei em meu saite, não tinha conhecimento dessa alegoria kafkiana. Ao encontrá-la, fiquei feliz porque figurativiza à perfeição o que teoricamente consta naquele meu texto. Estava eu, então, concentrado na compreensão do espaço literário.

Tamanha é a importância atribuída por H. Arendt à narrativa kafkiana que a inclui em duas de suas obras – Entre o passado e o futuro e A vida do espírito discutindo questões que, para ela, respeitam ao tempo, segundo a concepção de E. Kant, que vê espaço e tempo como categorias distintas.

Lugar de passagem – que se presta tanto a remansoso trânsito quanto a jogos de tensão e conflito, mais ou menos violentos ou traumáticos – o limiar, assim o vejo hoje, é constructo que se presta à análise de eventos e, por consequência, implica não apenas o tempo, como entende H. Arendt, mas o espaço-tempo. Essa categoria de base para a compreensão da narrativa, que incorporo da física de A. Einstein, aguarda, há mais de um século, para ser aceita pelas epistemes chamadas, em geral, de ciências humanas.

Mas retornarei a Proust, como prometido em Proustiana - I.

domingo, 21 de agosto de 2011

Proustiana (I)

A quem me pergunta a razão do título Limiares, dou por ora duas razões apenas, pois as demais cairão de maduras, quando tocadas pela brisa da primavera: primeira – a noção de limiar é um autêntico útero de analogias; segunda – seu valor cognitivo. A esta, explico apenas parcialmente: vejo o limiar como importante constructo heurístico e teórico, ou seja, tem papel essencial na revelação de aspectos escusos da realidade, além de favorecer sua compreensão.


Examino um exemplo da virtualidade heurística da noção de limiar em artigo com recorte micrométrico de Forrest Gump, polêmico filme de Robert Zemeckis (1994). Isso consta em livrinho que organizei quando ainda era doador de sangue ao ensino, em tempo integral, durante minha vida universitária – Semiótica: olhares (Edipucrs, 2000*).

Outro exemplo, extremamente mais rico, ocorre em O tempo redescoberto, de M. Proust. Na última parte da narrativa, Marcel, o protagonista narrador, relata o que lhe sucede ao participar de uma recepção na casa do príncipe de Guermantes. De há muito afastado da vida social, frustrado pela própria incapacidade para ser escritor, ele se decide pelos «prazeres frívolos». Mas lá chegando, é envolvido por uma sequência de mínimos eventos: o primeiro é o passo em falso, em uma das pedras do calçamento, que leva seu corpo ao limiar do equilíbrio. A seguir uma série de outros pequenos incidentes deflagra o limiar que toma de assalto seu espírito, através de duas intuições: uma é vetor que o encaminha para o passado; outra, a força que o orienta para o futuro.

Voltarei a falar de ambas. E do limiar que as engendrou...
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*Acesso provável pelo Google Books; em http://www.google.com.br/search?tbm=bks&tbo=1&q=DINO+DELPINO).

sábado, 6 de agosto de 2011

Reminiscências... Reincidências...


Embora, em matéria de política, eu não me considere mais que um eleitor atento, costumava ver com simpatia as manifestações públicas do Dr. Nelson Jobim. Poucos anos faz, informou-me uma ex-aluna  – colega dele no cursinho de pré-vestibular – que também ele teria frequentado minhas aulas de literatura.

O cursinho era provavelmente o do Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt, que funcionava na Faculdade de Filosofia da UFRGS, ou o IPV, Instituto Pré-Vestibular, os únicos em que dei aulas, na década de sessenta.

Acrescentou minha informante que certa vez pedi, a bem da disciplina,  que o aluno Nelson Jobim se retirasse da sala. Eu, que de nada recordava, acabei debitando minha atitude a certo exagero no tratamento dos alunos, por insegurança, por inexperiência, ou por ambas.

No entanto, ao ler agora na imprensa as indefensáveis molecagens verbais do Ministro da Defesa, que aliás culminaram em sua demissão, acabei por me conceder provável absolvição...

Agradeço à Presidenta Dilma o benefício regressivo, ao confirmar que o professor, já naquela época, não errou.